Macaco e Morcego: drinques no balcão do Bode
Por Pedro Landim
Sai Hendrick’s, entra Jurubeba. Ou prefere Alcatrão? É tudo uma questão de Fogo Paulista na dose correta, que varia de acordo com a vontade – e a experiência – dos cotovelos cinzentos no balcão. Amigos dos traçados e rabos de galo que levaram ao boteco uma tal de mixologia: a ciência do mistura e manda.
“Água de Morcego é aquela que o passarinho não bebe. É um drinque para beber devagar, junto com a cerveja, botar uma glicose”, explica Marcos Bonder, o ídolo Bond Boteco.
Foi ele o criador do coquetel, em noite tijucana iluminada por torresmos robustos, em parceria com Leonardo Lelê, do Bar do Bode Cheiroso.
Com a pegada amarga do Campari, a acidez do limão e a doçura do Fogo Paulista, a Água de Morcego veio fazer companhia ao clássico Chá de Macaco, invenção de um ex-funcionário que remonta à infancia do Lelê no estabelecimento da Rua General Canabarro.
A fórmula do Chá traz o Conhaque de Alcatrão São João da Barra, um ícone botequeiro, com a distinta cachaça De Mel e limão espremido, tudo batido com gelo. Destacamos na peça o sabor ‘defumado’ do alcatrão que parece até coisa de bartender premiado. Tá de bobeira?
As duas opções são servidas em 300ml, feitas com a dose de um copo americano de cada goró, para o sujeito ficar legal de uma vez e deixar de frescura.
Meladinha e Elegante
E falando nas garrafas que embalam tantos sentimentos bonitos, e outros nem tanto nos botequins desse Brasil afora, é no Bar Kalango que nos lambuzamos com a Meladinha.
Caprichada e sedutora, como são as iguarias servidas nesse fabuloso recanto nordestino na Praça da Bandeira, a tal menina convoca a Jurubeba Leão do Norte, que abraça cachaça envelhecida, melado de cana e limão em pedaços, tudo sacudido com gelo e servido em copo longo.
Meladinha tem Jurubeba e melado no Kalango
Caminhando pela vizinhança, temos na Noo Cachaçaria um belo exemplo de como a Coquetelaria Pinguça Carioca também arregimenta nomes respeitados do ramo. É o caso do bartender Alex Mesquita, que criou para a casa um drinque de sucesso chamado Elegante: cachaça Leblon, maracujá, syrup de jasmim e limão.
Num ambiente de ótimos petiscos e caipirinhas escolhidas pela madeira onde a pinga descansou – há no quadro negro opções como lichia e carvalho, ou lima e bálsamo -, o coquetel do Alex é mais um companheiro de respeito ao ceviche das terças-feiras, e as ostras das quintas, embora disponível todos os dias na Noo.
Elegante: na Noo a coisa é fina
Aurora na Tijuca
No seio da chamada Tijuca Profunda, o bebedor atento já reparou que às vezes o sol nasce de noite no vai e vem do Bar do Momo. É só pedir que o Tijuca Sunrise desponta no balcão.
A criação do cantor Pedrinho da Muda (do Samba do Engenho Velho) já chegou a São Paulo, em evento no Bar Pirajá onde o poeta Moacyr Luz declarou, no meio da roda de samba: “O Pedrinho estudou muitos anos para criar esse drinque”.
Pra ver o sol nascer no Momo
O coquetel leva a famosa batida de maracujá da casa (feita com uma dezena de compostos alcoólicos), vodca e Campari tingindo a mistura, com pedras de gelo para refrescar.
Outra boa pedida na calçada ou no balcão momesco é o clássico Traçado, conforme ensinado pelo camarada Dirley Fernandes, graduado integrante da Cúpula da Cachaça: pinga branca, Cynar (licor amargo de alcachofra e ervas) e casca de limão espremida no copo.
Tamarineira no Rum
Vidrado nas diversas linguiças, o pessoal às vezes não percebe, ao visitar o menu do Enchendo Linguiça, a lista igualmente variada de nove drinques próprios da casa.
Tequila com melancia e caipimorango no Grajaú
O Tamarineira é homenagem às centenárias árvores do bairro, que enfeitam a Rua Engenheiro Richard, com polpa de tamarindo, rum e angostura. A Desinibida do Grajaú tem frozen de manga, suco de laranja, vodca e xarope de framboesa. E o Melantequilla vai de tequila prata, soda e xarope de melancia.
Que venha o Carnaval.
